26 de fevereiro de 2011

Balzaquiana

                                                                                                                      (Monólogo Harpa, Cena nº 6)


Agora são 22 horas e estou sozinha em minha casa. A sala de estar aconchegante me convida a um vinho doce suave e pedacinhos de queijo com alecrim, manjericão e azeite de oliva...
Depois de preparar um belo prato, coloquei-o sob a mesinha do centro e fui pegar minha taça de cristal –uma das que me lembra uma eterna história de amor- e, ao lado de cada delicadeza tão repleta de mim, pus um arranjo floral comprado em uma de minhas viagens à Firenze.
Parecia estar tudo lindo e perfeito, mas percebi que faltava uma música que me lavasse a alma e me reconduzisse a um outro estado de ânimo.  A música escolhida tinha que ser alguma do Andrea (o Bocelli).
Sentei-me, confortavelmente, em uma poltrona e puxei um pouco as cortinas para que a penumbra de fizesse presente no ambiente, arrumei meus cabelos curtos porém charmosos e retoquei o batom vermelho que tanto gosto.
Resolvi colocar uma peça bem leve sobre meu corpo e que não colocaria nenhum perfume posto que não queria usar um sabor que não fosse meu. Eu sei que o sabor que vem de mim, encanta, seduz e conduz a um caminho gostoso, o homem que me toca, cheira, prova.   
Estava então tudo pronto /pensei/...
Tomava o vinho, beliscava os queijos e ouvia o Andrea. Então, notei que bem na direção da porta, havia a presença cuidadosa de um espelho – que sempre esteve ali naquele lugar-. “O espelho” /pensei/: “Nossa como ele fala!”.
Apreciava a música, degustava os queijos e saboreava o vinho. Assim, observei calmamente cada linha do tempo em mim... Cada pedaço de mim foi revisitado por horas... Cada pedaço me fazia inteira e solene.
E então, pus-me, em um gesto de descoberta a olhar-me como um todo, e, vi muitas vezes, uma mulher linda, cujo olhar brilha, ampara, conforta, ameniza;  cujo sorriso encanta mesmo e é tão largo, solto, intenso; cujas curvas são deliciosas e perigosas, cujos seios falam e matam a fome; cujo abdômen – Nossa, Meu Deus é o caminho que não permite recusas e leva ao paraíso -.
Ali estavam o pecado, a presença e o sentido de ser mulher... Lembrei-me, então, de um francês, chamado H. Balzac, que escreveu uma obra falando sobre as mulheres de meia idade. Bem, meia idade não! Uma idade inteira, para uma mulher inteira, dona de si, de seu corpo, de seu fazer, de seu sentir...
A mulher, de idade inteira, também pode ser chamada de balzaquiana – o termo parece pejorativo e, às vezes, até é mesmo! Mas como são belas as mulheres que sabem o que querem com clareza e com verdade, se percebem apaixonantes no jeito singular de ser e de viver, sabem os caminhos do prazer, conhecem cada cantinho sensível de seu corpo,  têm mistérios na alma mas não silencia as vontades na cama.
Isto me faz agora lembrar quão belas são as florações que estão no deserto... Minha imagem agora revela La Serena, no Chile onde podemos encontrar as 'añañucas vermelhas'. Isto me dá a certeza de que o deserto quando existe dentro de nós que seja para ter a finalidade de florescer-nos!
Gostaria muito de poder ser colhida por algum andarilho, mas o que mais me conforta, me envaidece, me faz dormir e acordar tão plena, é saber que tenho o espelho como companheiro de passagem, e, que hoje mais do que ontem e menos do que amanhã eu me assemelho ao vinho quente e convidativo; tenho o sabores de alecrim e manjericão; sou ‘extra suave' como o azeite; aproximo-me da sonoridade trazida pela música, encanto-me com minhas próprias paisagens e sou a expressão do calor em forma de Mulher!  
             

2 comentários:

  1. Amiga,
    É muito interessante esse exercício de alteridade de mim para mim. Buscar se ver, se perceber, se sentir... isso revela a evolução do humano. Se não conhecemos a nós mesmos como ousar querer conhecer o outro?
    Também vou entrar nessa viagem... rs.
    Beijo de carinho

    ResponderExcluir