8 de setembro de 2011

Análise

Monológo Harpa (Cena nº 29) 



Agora são 18 horas e o tempo não me ver passar como eu o vejo. Porque será que presto tanta atenção no tempo? Às vezes, penso, que poderia não existir relógios, nem tempos de ontem, de agora, de amanhã...

Isso, de pensar sempre no tempo, causa agonia e transborda angústias... O tempo é soberano e nós somos apenas criaturas que sonhamos com o ‘alado’ que nos transportará para tempo de ontem (saudade) ou para tempos de amanhã (esperança), sem perder a leveza da alma, o fascínio 'devir' .   


É o tempo de agora que me mostra que sou uma alma em busca de um corpo ou um corpo em busca de uma alma. Algo em mim está perdido e talvez exista uma briga entre tempos, contratempos de desejos! Não sei bem o que é nem quando aconteceu essa perda! Mas não posso deixar de sentir que perde-se é importante! Para que necessitamos tanto de achados sistemáticos que revelam a constância mentirosa da inconstância verdadeira que somos nós?


O vazio serve para lembrar que algo acabou. Acabou porque tudo tem um fim – que óbvio mal-dito ou bem-dito! Que bom pensar no fim porque somente ele é sinônimo de algo começou! E se começou foi para cumprir um tempo que nem o tempo quis saber medir! O fim é o principio de tudo e de um nada sem nome, indefinido, volátil, versátil, sonoro, eterno! Que vale! Sempre vale!


E porque o fim teve que ser agora? Perguntei-me pensativa! A resposta não veio e nunca virá! O tempo dirá se era preciso! Cecília (Meireles) me disse certa vez que: ‘é preciso deixar-se cortar para se fazer inteira’. Ela tem razão e é necessário viver o corte do tempo absoluto que tanto queremos! Somente esse corte será capaz de um levar ao relativo eterno das coisas.


 A alma apodrece quando não acorda todas as manhãs e fica a espera de um tempo que passado, ainda, escurece o presente. As manhãs nunca nascem quando as noites não são prósperas de vidas, desejos acesos em faíscas do querer. Há de chegar o tempo em que a alma acordará para o agora, as manhãs anunciarão primaveras... 

Na primavera o florescer grita, grita igual às gaivotas... E o grito anuncia o belo e o frágil, o justo e o forte nas paisagens visitadas em sinômino de procuras... E, nas procuras, eu também estou, florescendo-me no livre balanço da dança dos pólens.     


E, voltando as gaivotas, o tempo passa por elas ou elas sobrevoam o tempo? Não existe limite, existe um ser que vive e procria, alimenta e se alimenta, reinventa o vôo livre e perfeito! Ali esta a expressão do próprio devir ‘um vir a ser’ infinitamente fecundo e amparado em buscas!


Quero ser uma gaivota! Abusar do tempo sem sentir que ele passa, encontrar-me em céus onde existam em formas de brisas, expressões de 'um talvez', 'um até logo', 'um até mais tarde', 'um volto logo'... Um algo que me pulse, recupere em mim uma liberdade para pensar em vôos.   


 Quero ser uma gaivota! Infinitamente me renovar a cada vôo livre. E, quando pousar no mais alto-chão, admirar o infinito com olhos de quem sabe sentir o mar... E, sentido-o, lembrar-me, amavelmente, do amor que o tempo marca em saudade, e,  possibilitar-me, suavemente, uma distância repleta de paz em que o tempo seja um amigo, não um algoz (um retrocesso)!        


 

                                                                                                                            


8 de junho de 2011

Meio e Meia

(Monológo Harpa, Cena nº 28)

Eram 4 horas da madrugada. Eu sentia meu corpo dormir leve...

Em meio às cobertas senti você chegando devagar e tomando conta de meu corpo com cuidado e por inteiro.

Percebi que era um sonho, mas me recusei a continuar percebendo. Era melhor deixar o sonho fluir no sono que me tomava.

Eu fui sentindo o sonho ser verdade. Uma verdade nua, linda, transparente, convidativa... Então, por um momento, dei pausa ao sonho e pedi ao sono que não se atrevesse a me acordar.

Eu não precisava acordar, precisa era continuar fora de mim, dentro de ti e para além de nós. Nós somos uma estranha força que nos empurra para o sonho quando a realidade não quer mais nos aproximar!

De repente, vi, nitidamente, minhas mãos retirando cada peça de minhas roupas... Eram minhas mãos ou eram tuas mãos? Nem sei! Elas se misturavam numa doce metade em meio a nós.

Novamente implorei ao sonho que não se afastasse de mim... E forcei meu corpo a continuar dormindo e ele temporariamente obedeceu-me.  

E, então, eu fui sentindo tua visita, teu passar de pernas, teu colher de braços, teus abraços repletos de bem mais que bem querer.

Triste foi perceber que, por mais que eu implorasse, o sono ia se afastando de meu corpo sedento de mais sonho, de mais você, de mais verdade (nossa verdade que agora repousa na distância que ainda nos mantém próximos).

E o sonho saiu de mim... Despediu-se devagar, me deixando aos poucos, e, o sofrimento se fez presente porque eu queria que o sonho recomeçasse, voltasse para mim e continuasse do ponto em que parou ou começasse tudo outra vez.  

Isso era o que eu queria, era o que eu queria e desejava, mas não teve jeito, não teve apelo, não tiveram palavras, não existiram súplicas, nem ‘espera mais um pouquinho’ ...  - nada mais era ouvido pelo sono -.

Então, o corpo acordou, se despediu do sono, e, o sono se afastou do sonho, e, o sonho ficou, ainda por horas, projetado em mim... Mesmo sem mais estar em mim ele continuava em mim... Era estranho, mas eu consegui manter o sonho sem que o sono estivesse em meu corpo! 
 
Meu sonho teve pena de mim e se recusou a sair de mim de maneira abrupta e, por isso, demorei a sentir, a perceber, a entender que: O sono havia deixado o sonho, o sonho havia se afastado do meu corpo, e, meu corpo sem sono e sem sonho havia ficado órfão de ti, dispido de mim, ausente de nós, ali sozinho em metade em meio a saudades, lembranças que alcançam o sentido de ti.

O dia, então, se passou em meias metades entre tantos meios: Meio triste, meio alegre, meio amargo, meio doce, meio loucura, meio sereno, e, nesse emaranhado de ‘meios em meios’, uma meia parte de mim se foi junto com o sonho procurar por onde andamos nós dois, e, a meia outra parte de mim se foi para a varanda, olhar passarinhos, descobrir seus ninhos, pedir ao tempo da manhã que chegasse o tempo da tarde, pedir ao tempo da tarde que trouxesse o tempo da noite...

E quando o tempo da noite chegou, notei um matiz diferente no estrelado... Encantei-me com o sinal e me pus a olhar para os muitos céus agradecendo a oportunidade silenciosa e ousada que tive de tê-lo mais uma vez tão em meio a mim, tão em mim inteira, na meia metade em que pudemos compor nós dois em um. 
      

13 de maio de 2011

Abraçada


(Monólogo Harpa, Cena nº 26)



Faz tempo que não me encontro assim: Abraçada com a felicidade!

Nossa como é prazerosa a sensação de sentir e de viver isso assim desse jeito, repleto de chamego que o momento nos dá! 

É tão bom que só consigo trazer para meus braços os abraços vindos de ti. E como você vem... Nossa, você vem de uma maneira tão especial, tão indescritível que, muitas vezes, fechamos os olhos para não vermos o tempo passar!

Nossos abraços são como aquele vinho antigo, guardado de modo especial, naquele lugar que somente nós dois sabemos!

Como me sinto infinita quando encontro-me abraçada, enroscada em ti... E você, ainda ontem, disse-me em pergunta:


“Para que pensar no tempo que acontece lá fora se o tempo que acontece aqui dentro de nós, nos toma por completo e nos felicita por estarmos vivos, vivendo nesse ninho de carícias, no qual os abraços são laços, são encontros de uma vida?”.
 
Na verdade, gostamos tanto de nos abraçar que, às vezes, faltam-nos braços, sobram-nos desejos, borboletas voam em torno de nós e a música nos leva para lugares que não podemos contar.

Ainda ontem, depois do jantar, a música tocava suave, convidativa e perigosa quando, de repente, sem que eu esperasse, você me perguntou com os olhos e com a boca:


“O que é que eu faço que te deixa mais excitada, com vontade de muito mais?”
 

E, eu meu amor, respondi sem muito pensar, com muito a querer e com muito sentir que:


“O que mais me excita é receber você em torno de mim, ‘’futucando’’ em meus cabelos, contornando minhas costas, procurando minha cintura, trazendo-me para perto, e, mais perto, e, mais perto, deixando-me presa sem vontade de fugir, com vontade de amar, sem nenhum tempo medir!”.


E, você, mais enroscado ainda em mim, me revelou que eu sempre te ‘pego de jeito’ com minhas palavras inteiras, repletas de nós, sem meia verdade, sem pudor que permita a proibição repousar!

Nossos abraços, um fogo puro, reflexo de uma paixão que quer se tornar um algo a mais, que quer repousar segredos, que deseja encontros de pernas, que silencia depois do amor, que não quer cobertor, posto que não quer encobrir a parte de nós que nos torna ‘um’ apesar de sermos 'dois'!

     

16 de abril de 2011

Às Cinco da Tarde

                                                                                                             (Monólogo Harpa, Cena nº 25) 



Às Cinco da Tarde, estávamos lá: Eu, Eu Mesma e Eu Desejo!
Confuso não?! Bem, acredito que é preciso explicar esses três eu’s que teimam em mim habitar!

Eu (essa parte de mim que todos vêem). Eu Mesma (essa parte minha que só revelo a quem me interessa) e Eu Desejo (uma parte de mim que se mostra e se esconde, se oculta e se revela, e, se revela quando mais se oculta).

Nós três, tomávamos o café! E nós conversávamos tanto, mais tanto que não víamos as horas passarem. Para que olhar relógio, marcar o tempo que tão temporal é?! Em cada conversa iniciada, parecia que estávamos construindo uma tese. Uma tese cujo problema central poderia assim ser descrito: Como fazer para sentir-se capaz de viver plenamente as sementes plantadas e retomar caminhos em que se deixou de plantar?

                                       Sabe por que esse é o problema?

Primeiro, porque descobrimos (Eu, Eu mesma e Eu Desejo) que muito se tem plantado e pouco se tem desfrutado. Nem ao menos sabemos se as árvores ainda em sementes dariam flores ou frutos, ou, galhos secos ou vistosos. Plantamos e lá deixamos. Não revisitamos a plantação, para não revisitar o lugar, para não nos revisitar. – Essa talvez seja a maior certeza e a mais triste também – não queremos nos revisitar!

Talvez por medo, timidez, vergonha, desconfiança, baixa estima... Talvez por tudo isso junto o que nos daria uma procura maior ou nos lançaria em precipícios internos esses que ninguém vê mais que às vezes teimam em habitar em nós e se transforma numa eterna tortura.

Em seguida, porque percebemos que o tempo passou e não plantamos. Deixamos para depois e esse depois nunca chegou. Um ‘depois’ preguiçoso que nos fez perder a era dos mosteiros, das catedrais e igrejas, dos castelos e dos mosaicos, das histórias de reis e rainhas, príncipes e princesas, estados de amor!

E o tempo, este senhor sedutor e malvado, foi se misturando em tempo de Deus (na Visão de Voltaire), em tempo de Cosmo (na visão de Kepler), em tempo de Corpo (no sentido da realidade e da metáfora), em tempo de Estado (visão de homem, de mundo, de política, de in-significâncias). Quantos tempos para falar de nós! Quantos tempos perdemos em nós!

Será que não há mais tempo real? Meu tempo de hoje (meu hoje – do meu eu, do eu mesma e do eu desejo) atende pelo nome de Deriva. É objetivo quando me recuo. É subjetivo quando me perco. É absoluto quando não me deixa fluir. É relativo quando me permite apenas ser. É natural quando me revela parte de um todo chamado natureza. É Biológico quando me diz: ‘És ser humano, humanize-se!’

Será que não há mais tempo pontual? Meu tempo de agora (meu agora - tempo do eu, do mesmo, do desejo), atende pelo nome de Instante. É histórico revelando quem sou, onde estou, porque estou! É cíclico porque me faz devir, movimentar-me! É mítico e é cósmico quando me faz ouvir as estrelas e advinhar o áurico sussurar dos sonhos . É cosmológico e astrológico quando me avisa os mistérios do porvir, me faz acreditar em outros mundos nos quais as histórias são contadas de maneiras diferentes.

Será que não há mais tempo seguinte? Meu tempo seguinte (meu seguinte em meu eu e não-eu; do mesmo talvez igual; do desejo qual será? Ainda há tempo?), atende pelo nome de Profético. É estático, é parado; é dinâmico, é volátil quando me reveza, me conserva, me consola, me engole, me (contra)diz..., me anuncia, me reserva, me comprime, me alerta, me faz delirar em mares não visitados, em ondas ainda temidas porque teimama em tomar conta de mim. 

Será que não há mais tempo sentido? Meu tempo sentido (meu sentido é meu eu ressentido, meu mesmo/igual a buscar diferenças; meu desejo repleto de inconstâncias) e atende pelo nome de ‘Estar’. É fractual, é curto, é longo, é negativo é positivo quando me multifaceta, me multicolori, me fragmenta, me faz parte de um todo, me diz ser todo sem aquela parte! Me mostra o relativo no absoluto e absolutiza o que ma faz ser relativo!

Hoje, às Cinco da Tarde... Conversei com as três em mim. Qual delas tem a razão que fere, silencia, emancipa, polariza, invade, condena, absorve, quer explicações, quer deixar para lá as palavras nudas que não querem se expor? Qual delas tem a paixão que atormenta, reveste, se lança e alcança, dorme e acorda, sonha e em entra em pesadelo, chora e sorrir, entoa e destoa, voa e pousa, sente e ressente o pedido que a boca não explorou?!
   
Amanhã, há mesma hora, estaremos lá as três, para continuarmos uma conversa que não tem fim e cujo começo tem dois momentos:

                         O primeiro, que fluiu no tempo ‘presente’ que olha o ‘passado’, faz do ‘passado’ o ‘presente’ e não sente (ou sente, não sei!) as querências da alma em chamas!
                        O segundo, que propôs para o tempo futuro ser ponte e ser fonte nos quais cabem clamor de passagens para que as próximas sementes não sejam deixadas para trás ou jogadas em quaisquer lugares onde não brotam as vontades contidas no desejo e não façam o ser 'Ser um Ausente', provido do 'Hoje' à Deriva, tomado pelo 'Agora' só Instante, agonizando o 'Seguinte' no Profético e calado no 'Sentido' de Estar. 

14 de abril de 2011

Princesa

                                                                         (Monólogo Harpa, Cena nº 24)


Ontem à noite minha última leitura foi em Carlos (Drummond de Andrade). Li com atenção seu poema “O amor antigo” e lá está escrito que: /O amor antigo vive de si mesmo,/ não de cultivo alheio ou de presença./Nada exige nem pede. Nada espera, / mas do destino vão nega a sentença/.

E então, sai da leitura, para entrar em mim, estranha criatura que ainda sonha com o passado a quem dei-lhe o nome de ‘passado próximo’ só para ver se fica mais presente aquilo que já é passado instante, soterrado por lembranças, querências de uma sentença!
E se é antigo, é ainda muito recente, no coração de quem sente, posto que o que é antigo recebe nome de velho e velhice pode até morrer por viver mendigando outro porto! Outro porto onde o sol mesmo antigo, quer e teima ‘viver em-si mesmo’. E não é que isso até que pode acontecer e perdurar por eternidade? E acontece também que é triste saber que o antigo só se conserva nas fotos da estante!
Nada exige e nada pede’! Isso é possível até que ponto?! Exige a presença marcada pela ausência, pede retorno em voz oca de ecos! E espera a esperança se anunciar! Nossa como espera por um destino que te traga ‘o ontem’ para ‘o agora’ e ‘o agora’ para o ‘para-sempre’.    
E o Carlos, continua: /O amor antigo tem raízes fundas, /feitas de sofrimento e de beleza/Por aquelas mergulha no infinito,/e por estas suplanta a natureza./ Neste instante, fechei meus olhos e reservei minha ida as minhas profundezas poços sem chão ou com chão a deriva!
Procurei as raízes, busquei em que terras tu estavas, sai despedindo-me das tristezas, do sofrimento que me impus e lembrando-me das essências que abrigam as belezas, as purezas que ao amor conduz! E infinitamente, sobrecarreguei meu pranto, querendo um manto para cobrir-me, mergulhei em águas claras, mergulhei em cantos tórridos, lágrimas em cristal de sal descendo em sublimes cachoeiras, segurando o ainda terno, doce súplica da natureza para ter tua alma mirando-me!      
Carlos, ainda lembra-me: /Se em toda parte o tempo desmorona/ aquilo que foi grande e deslumbrante, o antigo amor, porém, nunca fenece / e a cada dia surge mais amante./.
E assim foi fortalecendo-me: O amor, o tempo, o que a masmorra não perdoa! Mas torna grande, triunfante o que ali se afeiçoa, em cálido canto de candura que não apodrece, e, ainda cura aquilo que os tornou amantes!
E já no fim, qual fim? Ainda ouço Carlos falar: /Mais ardente, mais pobre de esperança. Mais triste? Não. Ele venceu a dor,/e resplandece no seu canto obscuro, / tanto mais velho quanto mais amor/.
Então, por fim, sentir: É por isso que somos sempre as princesas em nossos sonhos e buscamos os príncipes, os homens gentis, os cavaleiros alados que ao nos encontrar, retiram-nos de grades suspensas; libertam-nos das masmorras, lugares infinitos e perdidos em si; faz-nos sentir especiais e eternas, e, somos infinitas enquanto existimos, e, somos amadas também por bandidos amados, queridos, bem-vindos que nos roubam para nos salvar!
As princesas não precisam acordar! E quando acordam buscam o sono que traga o sonho iniciado posto que acabou antes da hora, antes do tempo se dissipar, antes da estação terminar, antes do “basium", do "Bozk", do "Beso", do "Kiso", do "Baiser"(...) calar-te a boca...
As princesas sempre sentem que o amor vence a dor! Que a dor esvanece-se na saudade. Que a saudade se chama esperança e a esperança se traduz em lembrança d’onde a tristeza somente repousa quando os olhos se abrem!