11 de março de 2011

Mau e Mal

                                                                                                                                                                  (Monólogo Harpa, Cena nº 12)

Pois é vai entender...
Você tentou fazer um bom negócio quando se aproximou de mim.
Você só não esperava que o negócio saísse tão mau a fim de terminar causando-me um bem enorme!
Bem que eu tentei alertar você para o mal que você nos fazia e mal eu terminava de falar, estava você por lá me lançando o bem ao contrário. Que mau, não pensar bem, de um bem que não te desejavas o mal. Seria um bem, não vou negar, se eu pudesse apagar os dias em que mal começou esta história tão cheia de atrofias. 
E eu ainda tentava falar bem de você porque mal não te queria. Mas bom mesmo foi perceber que todas às vezes que tu lançavas o mal sobre mim, eu terminava por sentir que bem ou mal as pessoas se afastavam de tua energia fraca e mal resolvida, o que terminava por ajudar a você, a perder o bom e o bem da vida - mas não era por vontade, era porque ninguém aguentava esse mau humor que te cotorna e fazia tão mal para este 'bem de pessoa' que ainda hoje, ainda te consolas!
Mal meus olhos pousavam sobre você já estava de bom tamanho para aqueles momentos insanos que pairavam sobre mim... Um segundo que fosse já era tempo demais e o bom mesmo era buscar lançar o olhar para outro olhar. Infelizmente eu vi que olhar demais para sua imagem era certeza de que mal ficaria com meu bem-pensar e bem-estar, nesse bem-viver e viver-bem que comigo agora está!
Ainda bem que o tempo bem passou, correu com o mau que se acabou, que foi sumindo para o nosso bom regalo, posto que, se o mal ainda permanecesse sobre nossas paisagens, com certeza você sepultaria em mim o pouco que resta da saudade que ainda tenho por ti. Saudade palavra exata para bem definir o pouco de bem que você tão mal me fez!
E que fique claro e nem um pouco mal explicado: quando digo ‘sepultar’, diga-se de passagem, ‘é sepultar minha saudade em teu próprio túmulo’, porque não nego, e, também não espalho, mas bem que cheguei a pensar que não seria de todo um mal se esse bem, esse bem chamado morte, bem depressa a ti chegasse, retirando-me a má-sorte!
Esse, meu amor, é meu lado mau uma vez que o mal foi o que você bem me ensinou a sentir, a sentir, a sentir por ti... E, olha, mal me reconheço assim, já sinto um bem enorme tomar conta de mim... Estranho isso, não é? Mas é assim:


             -Se o mau assola, o bem se ressenti, e, se o bom reluz, o mal vai ribaltar? Faça o trocadilho /já que você é tão inteligente/ e descubra se o mau pode causar o bem, e, se o bom pode casar com o mal?!-
                    Hoje quando alguém me pergunta em tom de ironia:
                “Cadê Mister BOM, aquele Mau
                 – que devido a tanto mal para o teu próprio  bem te caiu tão bem mal?”.
                  Eu respondo em tom solene que:
                “O meu Bem /como outrora assim pensei/ se transformou ‘em meu Mal’, e, o bom desse bem ao oposto é que mal pude perceber a sua tamanha maldade já estava coberta de bondade e afastada desse mal estar, desse desgosto!”.
“Muito bem, muito bem”, dizem todos que sabem dessa nossa história mal escrita, mal contada, mal querida, indesejada... Eles realmente estão felizes em saber que me dei de presente tua ausência insistente.
Mais não é que pensando bem eles têm mesmo razão?! Mal você saiu de mim já me deixou tão bem assim! E se assim dizem é porque me conhecem bem, e, sabem que eu não merecia um mal, que nem por bem implorar, chegaria a me trazer, um ‘bom bocado’ de bastante alegria.  
              E é como todos os amigos bem dizem a mim, mal dizendo você:
              “Para ficar com você mocinha /que é o sol que gira em semente de girassol/ o sujeito tem que ser muito bom, sem possibilidade de um mal plantar buscando um bem colher! Tem que ser um bem raro, uma pessoa do bem, cujo mal abortaria ainda que desejasse nascer!”.
               É por isso, meu querido, que te digo, sem mal algum te querer:
              “Se não é para ser bom, que deixe de ser meu mal meu bem, posto que o mal que me lançaste, ‘era vidro e se quebrou’, e, o mal que tu me querias, ‘era tão bom que ainda bem que se acabou”.
Bem, agora eu me despeço, para ir me arrumar, ficar ainda mais graciosa, para bom homem ir encontrar /porque já estou bem atrasada para o horário que marcamos e isso não é muito bom para o que antes combinamos.../ Ah! E me desculpa que eu não te disse - bem que eu sabia que havia sumido algo de minha memória–:
             “Eu encontrei um bem que nada de mal tem. Ele é um bem que não se lamenta e mal levanta já inventa um jeito bom de me acordar - trazendo flores de bem-me-quer, para minhas manhãs enfeitar!”. 
Mas olha bem do mal passado, presta bem atenção no que vou falar-lhe, que não quero te ver mal assombrado com medo de um ataque: “Ele parece que é mal no olhar severo que lança, mas é só para assustar os que chegam de mansinho sem nem bem sequer avisar - é puro cuidado também chamado de ciúme por aqueles que enamoram na boa aventurança!”.
No mais me causa um bem enorme saber, que estando junto dele, não há mal que se coloque nem que seja para sempre, e, o mal que tu disseste que ele iria me causar é tão bom para relaxar que mal termina a madrugada, já sonho com nós dois juntinhos, uma vez que nos queremos como se o bom fosse acabar e tivéssemos que aproveitar todo o bem que nos fazemos!  

10 de março de 2011

Quase

                                                                                                                                                                  (Monólogo Harpa, Cena nº 11)


E quase sempre é assim /eu bem que tenho notado/:
Você passa... E fica o movimento de ‘olho-não-olho’... E nesse quase que ‘olha e não olha que olha’, meus olhos olham os seus e vão entendendo devagar as coisas que desejas falar...
É por causa disso que um dia desses, eu quase que perguntava talvez com os olhos, talvez com as palavras, algo ensaiado mais ou menos assim:
              
                “Você tem medo é?!
                  E tem medo do quê?
                 –do quase sempre ou do quase nunca acontecer?”

Mas depois mudei de ideia... Para que perguntar essas coisas... O ‘quase’ me soa tão lúdico, tão (in)esperado... O ‘quase’ é tão gostoso que é como doce de coco verde que a gente come em colheradas pequenas com medo de acabar e não ter mais para degustar...
Lembras daquele dia em que estávamos no café? Vivemos um momento lindo quando eu percebi que quase você lançava uma pergunta qualquer com intenção de aproximar-se... Hummm... Uma ‘colher de quase que fala’ com uma ‘fatia de pergunta qualquer’ adoçariam aquele cafezinho de fim de tarde que nós costumamos tomar! 
Em enunciação de pergunta qualquer, eu quase te respondi sem ouvir tua pergunta e o mais interessante é que eu responderia exatamente o que desejavas saber, porque como dizem: “Sou quase uma cigana, e, quase sempre pareço ler os olhos daqueles que quase sempre evitam os meus”.
Lembro-me como hoje que um dia nós estávamos no ônibus e você quase se sentou junto a mim se não fosse aquele rapaz atravessar o caminho... Então fomos todo o percurso conversando sobre quase nada e quase tudo em um tudo que se resumia em mim e em você.
Quando chegou o ponto no qual deveríamos saltar, você quase afastou o mundo todo para ninguém em mim esbarrar... Tanto cuidado e devoção, quase me fez chorar, quase me fez sorrir, quase me fez falar... Mas preferi nesse ‘quase que quase’ deixar em suspenso um beijo que gostaria de te dar.
Em nem sei o que é que está acontecendo comigo: Não sou pessoa de quase... Quase é metade que fica, pede, implora... Mais é bonito viver o quase que atende pelo nome de vontade e pelo sobrenome de completo. 
Disseram-me que você gosta de sair para dançar... Acredito que foi isso que você quase me disse quando ouvimos aquela música tocar. E quase me fez o convite quando, sem querer, aquela pessoa /aquela que te olha o tempo inteiro e não tem nada de quase no jeito de te olhar.../deixou manchar de café a tua camisa branca, e, quase estragou o charme que em você está...
Ali, sim, naquele momento eu quase a fulminei com meus olhos... Quase implodir, quase explodir e estraguei toda doçura e leveza que cabem em mim... O que o ciúme /disfarçado de quase loucura/ é capaz de fazer não é? Eu quase botei tudo a perder por um quase nada sem graça que vi acontecer... 
E isto me fez tomar uma decisão /que ou vem de você ou vem de mim, mas algo deve acontecer/: o que não pode e não deve é esse ‘quase’ ganhar espaço e fazer-se presente por entre nós dois!
Então... Ou: 
                Você sai desse “quase que é hoje”, “quase que é amanhã”, decide pelo instante de agora que não se repete, e, expressa sem falar ‘nenhum quase’ ou ‘quase algum’ o que tua vontade conforta.
Ou... Então:
                Eu vou ajustar os sóis e a direção das luas para que ‘quase-sempre’, ‘sempre-sempre’, ‘quando-em-quando’...
                        Eu possa te tomar sem rumo, e, tê-lo em abraços numa cena em que você esteja coberto de ‘‘quase nada’’, e, eu desvestida de “quase tudo’’.