(Monólogo Harpa, Cena nº 11)
E quase sempre é assim /eu bem que tenho notado/:
E quase sempre é assim /eu bem que tenho notado/:
Você passa... E fica o movimento de ‘olho-não-olho’... E nesse quase que ‘olha e não olha que olha’, meus olhos olham os seus e vão entendendo devagar as coisas que desejas falar...
É por causa disso que um dia desses, eu quase que perguntava talvez com os olhos, talvez com as palavras, algo ensaiado mais ou menos assim:
“Você tem medo é?!
E tem medo do quê?
–do quase sempre ou do quase nunca acontecer?”
Mas depois mudei de ideia... Para que perguntar essas coisas... O ‘quase’ me soa tão lúdico, tão (in)esperado... O ‘quase’ é tão gostoso que é como doce de coco verde que a gente come em colheradas pequenas com medo de acabar e não ter mais para degustar...
Lembras daquele dia em que estávamos no café? Vivemos um momento lindo quando eu percebi que quase você lançava uma pergunta qualquer com intenção de aproximar-se... Hummm... Uma ‘colher de quase que fala’ com uma ‘fatia de pergunta qualquer’ adoçariam aquele cafezinho de fim de tarde que nós costumamos tomar!
Em enunciação de pergunta qualquer, eu quase te respondi sem ouvir tua pergunta e o mais interessante é que eu responderia exatamente o que desejavas saber, porque como dizem: “Sou quase uma cigana, e, quase sempre pareço ler os olhos daqueles que quase sempre evitam os meus”.
Lembro-me como hoje que um dia nós estávamos no ônibus e você quase se sentou junto a mim se não fosse aquele rapaz atravessar o caminho... Então fomos todo o percurso conversando sobre quase nada e quase tudo em um tudo que se resumia em mim e em você.
Quando chegou o ponto no qual deveríamos saltar, você quase afastou o mundo todo para ninguém em mim esbarrar... Tanto cuidado e devoção, quase me fez chorar, quase me fez sorrir, quase me fez falar... Mas preferi nesse ‘quase que quase’ deixar em suspenso um beijo que gostaria de te dar.
Em nem sei o que é que está acontecendo comigo: Não sou pessoa de quase... Quase é metade que fica, pede, implora... Mais é bonito viver o quase que atende pelo nome de vontade e pelo sobrenome de completo.
Disseram-me que você gosta de sair para dançar... Acredito que foi isso que você quase me disse quando ouvimos aquela música tocar. E quase me fez o convite quando, sem querer, aquela pessoa /aquela que te olha o tempo inteiro e não tem nada de quase no jeito de te olhar.../deixou manchar de café a tua camisa branca, e, quase estragou o charme que em você está...
Ali, sim, naquele momento eu quase a fulminei com meus olhos... Quase implodir, quase explodir e estraguei toda doçura e leveza que cabem em mim... O que o ciúme /disfarçado de quase loucura/ é capaz de fazer não é? Eu quase botei tudo a perder por um quase nada sem graça que vi acontecer...
E isto me fez tomar uma decisão /que ou vem de você ou vem de mim, mas algo deve acontecer/: o que não pode e não deve é esse ‘quase’ ganhar espaço e fazer-se presente por entre nós dois!
Então... Ou:
Você sai desse “quase que é hoje”, “quase que é amanhã”, decide pelo instante de agora que não se repete, e, expressa sem falar ‘nenhum quase’ ou ‘quase algum’ o que tua vontade conforta.
Ou... Então:
Eu vou ajustar os sóis e a direção das luas para que ‘quase-sempre’, ‘sempre-sempre’, ‘quando-em-quando’...
Eu possa te tomar sem rumo, e, tê-lo em abraços numa cena em que você esteja coberto de ‘‘quase nada’’, e, eu desvestida de “quase tudo’’.
Ameiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
ResponderExcluir