(Monólogo Harpa, Cena nº 25)
Às Cinco da Tarde, estávamos lá: Eu, Eu Mesma e Eu Desejo!
Confuso não?! Bem, acredito que é preciso explicar esses três eu’s que teimam em mim habitar!
Eu (essa parte de mim que todos vêem). Eu Mesma (essa parte minha que só revelo a quem me interessa) e Eu Desejo (uma parte de mim que se mostra e se esconde, se oculta e se revela, e, se revela quando mais se oculta).
Nós três, tomávamos o café! E nós conversávamos tanto, mais tanto que não víamos as horas passarem. Para que olhar relógio, marcar o tempo que tão temporal é?! Em cada conversa iniciada, parecia que estávamos construindo uma tese. Uma tese cujo problema central poderia assim ser descrito: Como fazer para sentir-se capaz de viver plenamente as sementes plantadas e retomar caminhos em que se deixou de plantar?
Sabe por que esse é o problema?
Primeiro, porque descobrimos (Eu, Eu mesma e Eu Desejo) que muito se tem plantado e pouco se tem desfrutado. Nem ao menos sabemos se as árvores ainda em sementes dariam flores ou frutos, ou, galhos secos ou vistosos. Plantamos e lá deixamos. Não revisitamos a plantação, para não revisitar o lugar, para não nos revisitar. – Essa talvez seja a maior certeza e a mais triste também – não queremos nos revisitar!
Talvez por medo, timidez, vergonha, desconfiança, baixa estima... Talvez por tudo isso junto o que nos daria uma procura maior ou nos lançaria em precipícios internos esses que ninguém vê mais que às vezes teimam em habitar em nós e se transforma numa eterna tortura.
Em seguida, porque percebemos que o tempo passou e não plantamos. Deixamos para depois e esse depois nunca chegou. Um ‘depois’ preguiçoso que nos fez perder a era dos mosteiros, das catedrais e igrejas, dos castelos e dos mosaicos, das histórias de reis e rainhas, príncipes e princesas, estados de amor!
E o tempo, este senhor sedutor e malvado, foi se misturando em tempo de Deus (na Visão de Voltaire), em tempo de Cosmo (na visão de Kepler), em tempo de Corpo (no sentido da realidade e da metáfora), em tempo de Estado (visão de homem, de mundo, de política, de in-significâncias). Quantos tempos para falar de nós! Quantos tempos perdemos em nós!
Será que não há mais tempo real? Meu tempo de hoje (meu hoje – do meu eu, do eu mesma e do eu desejo) atende pelo nome de Deriva. É objetivo quando me recuo. É subjetivo quando me perco. É absoluto quando não me deixa fluir. É relativo quando me permite apenas ser. É natural quando me revela parte de um todo chamado natureza. É Biológico quando me diz: ‘És ser humano, humanize-se!’
Será que não há mais tempo pontual? Meu tempo de agora (meu agora - tempo do eu, do mesmo, do desejo), atende pelo nome de Instante. É histórico revelando quem sou, onde estou, porque estou! É cíclico porque me faz devir, movimentar-me! É mítico e é cósmico quando me faz ouvir as estrelas e advinhar o áurico sussurar dos sonhos . É cosmológico e astrológico quando me avisa os mistérios do porvir, me faz acreditar em outros mundos nos quais as histórias são contadas de maneiras diferentes.
Será que não há mais tempo seguinte? Meu tempo seguinte (meu seguinte em meu eu e não-eu; do mesmo talvez igual; do desejo qual será? Ainda há tempo?), atende pelo nome de Profético. É estático, é parado; é dinâmico, é volátil quando me reveza, me conserva, me consola, me engole, me (contra)diz..., me anuncia, me reserva, me comprime, me alerta, me faz delirar em mares não visitados, em ondas ainda temidas porque teimama em tomar conta de mim.
Será que não há mais tempo sentido? Meu tempo sentido (meu sentido é meu eu ressentido, meu mesmo/igual a buscar diferenças; meu desejo repleto de inconstâncias) e atende pelo nome de ‘Estar’. É fractual, é curto, é longo, é negativo é positivo quando me multifaceta, me multicolori, me fragmenta, me faz parte de um todo, me diz ser todo sem aquela parte! Me mostra o relativo no absoluto e absolutiza o que ma faz ser relativo!
Hoje, às Cinco da Tarde... Conversei com as três em mim. Qual delas tem a razão que fere, silencia, emancipa, polariza, invade, condena, absorve, quer explicações, quer deixar para lá as palavras nudas que não querem se expor? Qual delas tem a paixão que atormenta, reveste, se lança e alcança, dorme e acorda, sonha e em entra em pesadelo, chora e sorrir, entoa e destoa, voa e pousa, sente e ressente o pedido que a boca não explorou?!
Amanhã, há mesma hora, estaremos lá as três, para continuarmos uma conversa que não tem fim e cujo começo tem dois momentos:
O primeiro, que fluiu no tempo ‘presente’ que olha o ‘passado’, faz do ‘passado’ o ‘presente’ e não sente (ou sente, não sei!) as querências da alma em chamas!
O segundo, que propôs para o tempo futuro ser ponte e ser fonte nos quais cabem clamor de passagens para que as próximas sementes não sejam deixadas para trás ou jogadas em quaisquer lugares onde não brotam as vontades contidas no desejo e não façam o ser 'Ser um Ausente', provido do 'Hoje' à Deriva, tomado pelo 'Agora' só Instante, agonizando o 'Seguinte' no Profético e calado no 'Sentido' de Estar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário