(Monólogo Harpa, Cena nº 7)
Hoje, pela manhã, depois que retornei da missa, pus-me a leitura habitual e predileta: Os poemas de Cecília (Meireles). E tem um poema de Cecília que me chama especial atenção: “Vôo”.
Hoje, pela manhã, depois que retornei da missa, pus-me a leitura habitual e predileta: Os poemas de Cecília (Meireles). E tem um poema de Cecília que me chama especial atenção: “Vôo”.
Após ler e reler cheia de carinho percebi o quanto a Cecília tem razão. Ela diz: “Alheias e nossas as palavras voam/bando de borboletas multicores, as palavras voam/bando azul de andorinhas, bando de gaivotas brancas/ as palavras voam”.
Linda, a Cecília, nos dizendo que as palavras quer sejam ou não sejam nossas voam e podem soar multicores em forma de andorinhas ou gaivotas... Hoje, quando estive em companhia de meus dois lindos e apaixonantes sobrinhos, percebi as minhas palavras voarem e pousarem em seus corações.
Não tem coisa mais suave que você se pegar dizendo para alguém: “Eu te amo muito”, e, ouvir como resposta – “Eu te amo muito e para sempre”, ou, então receber como resposta “um sorriso largo’’ que emana prazer e alegria! – Foi assim que eles me responderam (os meus dois sobrinhos, cada um a seu modo!).
Diz ainda a Cecília que: “Voam as palavras como águias imensas/ Como escuros morcegos, como negros abutres / as palavras voam”. Aqui, acredito que cabe uma reflexão muito pontual.
As águias imensas, se olharmos para elas como possibilidade de alcançarmos diferentes aprendizados - estas podem nos trazer conforto e bem-estar-. Mas existem também as águias que por serem imensas ferem, amedrontam, ridicularizam, humilham, menosprezam, afastam, distanciam...
Os escuros morcegos e os abutres podem nos fragilizar, causar um odor estranho, um fel constante que atrai para trair os sentidos mais nobres daqueles que não se assemelham a tal profissão de má-fé. Heráclito, em Diagrama 1, Fragmento 13, nos diz que: “Os porcos se comprazem na lama mais do que na água limpa”.
Que devemos então fazer com as pessoas que remetem palavras que causam tantos danos? Deixá-las passar, ir adiante! – Talvez seja a melhor saída! Sim... Não devemos conversar com palavras que nos maltratam nem com os sujeitos donos dessas palavras!
Conversar com sujeitos que proferem palavras cruéis, duras, frias, mal colocadas, mal acabadas, sem Vida e Sabor é o mesmo que se tornar um porco e gostar de se banhar na lama, se tornar morcego e sentir prazer no desprazer do outro, se gestar abutre e nascer para mal-dizer e mal-cheirar.
Mais, minha serena e encantadora Cecília, continua: “Oh! Alto e baixo em círculos e retas acima de nós/ em redor de nós as palavras voam/ E às vezes pousam”. E é isso mesmo quer estejam ou não estejam escritas, bastam que sejam ditas – elas estão ou se colocam no alto, abaixo, em círculos, em retas, acima, ao redor... Por dentro, por fora ... Porque voam...
Quando pousam... Quando pousam... As palavras ficam lá, os sentidos também... E não há como ocultar os sentidos porque eles se impõem e se fortalecem sempre que são lembrados porque querendo ou não teimam em cristalizar em nós, se tornam parte de nós nos vivificando ou nos petrificando.
Se para Cecília “As palavras voam e às vezes pousam”, para Heráclito “Pensar reúne tudo”. E, ainda, podemos ler em Mateus (6, 24-34), que Jesus ensina as pessoas a buscarem o essencial, o que realmente conta. Assim, voar e pousar, pensar e reunir, ensinar 'o essencial', parecem compor o que se espera de nós e dos outros que de uma maneira ou outra passam ou estão perto de nós!
Então, que possamos pousar, pensar e buscar o essencial na palavra bem colocada, na frase que harmoniza, na idéia que encanta, no carinho que vem em letras ou em sons...
Que possamos buscar e encontrar no pouso, no pensar e no falar o humano no humano... O humano sensível, que vive um sentimento de alteridade que o leva a ser capaz de medir a profundidade das palavras que irá lançar sobre si e sobre o outro.
Assim meu maior desejo é que de cada um de nós possa voar, e, que em cada um de nós possa pousar palavras pensadas, queridas, amadas e bem-ditas, e, que em assim sendo, possamos ser habitat's de Deus para que ELE SEMPRE ESTEJA NO MEIO DE NÓS.
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