(Monólogo Harpa, Cena nº 2)
A semana inteira peguei o carro e saí por aí buscando encontrar você por toda a cidade. Todos os lugares im-possíveis foram visitados. Sem esperar, em certo ponto da insana atitude, me senti tremendo ao ouvir uma voz chamando alguém. Era a tua voz, certeza absoluta! Não sabia se parava o carro, se olhava pelo retrovisor, se continuava dando uma de durona em um ‘‘não estou nem aí’’ que não revelava a verdade em mim.
A semana inteira peguei o carro e saí por aí buscando encontrar você por toda a cidade. Todos os lugares im-possíveis foram visitados. Sem esperar, em certo ponto da insana atitude, me senti tremendo ao ouvir uma voz chamando alguém. Era a tua voz, certeza absoluta! Não sabia se parava o carro, se olhava pelo retrovisor, se continuava dando uma de durona em um ‘‘não estou nem aí’’ que não revelava a verdade em mim.
Mas, para minha in-feliz surpresa, o dono daquela voz não era você. Voltei a compassar as batidas do meu coração, o suor inicial saiu de subito das minhas mãos e foi para meus pés. Me acalmei sem me acalmar, me recompus sem me compor. Sobravam sentimentos, faltava-me tranqüilidade, sobravam chuvas em minha alma, faltavam-me brisas doces.
Voltei para casa na madrugada, cheguei chorando de saudade, uma indescritível saudade de você comigo, daquele cheiro que perfumava nossos corpos no dançar do amor. Pus-me a perguntas que apenas eu podia escutar, sem contudo poder responder: ''Em qual lugar você estava naquela hora? Com quem você estava naquele instante? O que estaria fazendo, dizendo, sentindo? Para quem seu olhar e sua boca se dirigiam? E suas mãos estariam transitando por quais desejos?"
Naquela hora, senti vontade de quebrar o relógio e acabar com aquele tempo maldito e perdido. Mas que me adianta sentir raiva do relógio e partir o tempo em pedaços? O tempo que mais contava e me atropelava estava dentro de mim -e este para matar seria preciso matar a mim-. É o milésimo de segundo de minh’alma que me angustia, tira-me o sono, põe-me a dormir, pede-me para acordar, causa-me insônia...
De repente, no meio da sala, olhando na direção do quarto, pus-me como que por um instante a pensar em tom de pergunta para um ajustes de contas /de uma dívida minha para comigo/: ''Que tenho feito de minha vida e de meu tempo atemporal?''
E respondi a mim a questão que outrora renunciava: ''Passo os dias preparando-me para você já sabendo que você não virá ao meu encontro. Passo as noites procurando você pelos cantos e recantos, pelos caminhos e atalhos, pelas vielas e frestas dos lugares onde nosso corpo de alguma maneira já pousou".
E, por fim, trazendo uma força estranha, uterina, feminina que me retira de um precipício oceânico, concluo: "Por conta desta procura sem achado, não estou perdendo vc porque nunca tive-o, estou me perdendo daquilo que me é mais querido: o ‘eu mesma’ e o ‘meu ser em mim’!".
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