(Monólogo Harpa, Cena nº 24)
Ontem à noite minha última leitura foi em Carlos (Drummond de Andrade). Li com atenção seu poema “O amor antigo” e lá está escrito que: /O amor antigo vive de si mesmo,/ não de cultivo alheio ou de presença./Nada exige nem pede. Nada espera, / mas do destino vão nega a sentença/.
E então, sai da leitura, para entrar em mim, estranha criatura que ainda sonha com o passado a quem dei-lhe o nome de ‘passado próximo’ só para ver se fica mais presente aquilo que já é passado instante, soterrado por lembranças, querências de uma sentença!
E se é antigo, é ainda muito recente, no coração de quem sente, posto que o que é antigo recebe nome de velho e velhice pode até morrer por viver mendigando outro porto! Outro porto onde o sol mesmo antigo, quer e teima ‘viver em-si mesmo’. E não é que isso até que pode acontecer e perdurar por eternidade? E acontece também que é triste saber que o antigo só se conserva nas fotos da estante!
‘Nada exige e nada pede’! Isso é possível até que ponto?! Exige a presença marcada pela ausência, pede retorno em voz oca de ecos! E espera a esperança se anunciar! Nossa como espera por um destino que te traga ‘o ontem’ para ‘o agora’ e ‘o agora’ para o ‘para-sempre’.
E o Carlos, continua: /O amor antigo tem raízes fundas, /feitas de sofrimento e de beleza/Por aquelas mergulha no infinito,/e por estas suplanta a natureza./ Neste instante, fechei meus olhos e reservei minha ida as minhas profundezas poços sem chão ou com chão a deriva!
Procurei as raízes, busquei em que terras tu estavas, sai despedindo-me das tristezas, do sofrimento que me impus e lembrando-me das essências que abrigam as belezas, as purezas que ao amor conduz! E infinitamente, sobrecarreguei meu pranto, querendo um manto para cobrir-me, mergulhei em águas claras, mergulhei em cantos tórridos, lágrimas em cristal de sal descendo em sublimes cachoeiras, segurando o ainda terno, doce súplica da natureza para ter tua alma mirando-me!
Carlos, ainda lembra-me: /Se em toda parte o tempo desmorona/ aquilo que foi grande e deslumbrante, o antigo amor, porém, nunca fenece / e a cada dia surge mais amante./.
E assim foi fortalecendo-me: O amor, o tempo, o que a masmorra não perdoa! Mas torna grande, triunfante o que ali se afeiçoa, em cálido canto de candura que não apodrece, e, ainda cura aquilo que os tornou amantes!
E já no fim, qual fim? Ainda ouço Carlos falar: /Mais ardente, mais pobre de esperança. Mais triste? Não. Ele venceu a dor,/e resplandece no seu canto obscuro, / tanto mais velho quanto mais amor/.
Então, por fim, sentir: É por isso que somos sempre as princesas em nossos sonhos e buscamos os príncipes, os homens gentis, os cavaleiros alados que ao nos encontrar, retiram-nos de grades suspensas; libertam-nos das masmorras, lugares infinitos e perdidos em si; faz-nos sentir especiais e eternas, e, somos infinitas enquanto existimos, e, somos amadas também por bandidos amados, queridos, bem-vindos que nos roubam para nos salvar!
As princesas não precisam acordar! E quando acordam buscam o sono que traga o sonho iniciado posto que acabou antes da hora, antes do tempo se dissipar, antes da estação terminar, antes do “basium", do "Bozk", do "Beso", do "Kiso", do "Baiser"(...) calar-te a boca...
As princesas sempre sentem que o amor vence a dor! Que a dor esvanece-se na saudade. Que a saudade se chama esperança e a esperança se traduz em lembrança d’onde a tristeza somente repousa quando os olhos se abrem!
Então eu sou uma princesa! Rssssss!
ResponderExcluirLindo texto, como você, uma princesa!