5 de abril de 2011

Olhando

(Monólogo Harpa, Cena nº 19)

No domingo fui a praia... Por horas fiquei olhando as ondas, a areia branquinha sob e sobre meus pés. O céu resplandecia um tom nunca visto antes por mim...
Observei cada pessoa que passava. Admirei os corpos belos dos jovens rapazes que se exibiam e dos mais velhos que procuravam beleza, leveza no jeito de andar.
Adoro esse poder que a praia tem de nos deixar desnudos, mostrando as carnes e as curvas que temos. Adoro ver como as pessoas ficam soltas, leves e fogosas com olhares que teimam em mirar ‘aquela pessoa’, exalando o pecado gostoso de desejar!
Quando desfrutei as ondas, não queria mais voltar a terra. Elas, as ondas, são expressões de vida, força, pureza, magia, encantamento... Quando elas me tomam o corpo por inteiro sinto-as como um presente de Deus para mim!
Ah! Se eu pudesse! Se eu pudesse pediria aquele mar, aquelas ondas vindas de tão longe para trazerem você para perto de mim. Ô amor, você se lembra, de quando nós íamos para o mar com a desculpa de nos banharmos?
Nós íamos para as águas salgadas e ficávamos por lá horas, naquele amasso gostoso, corpo no corpo, língua na língua, que nunca alguém poderia imaginar!
Nossa como era bom! E você me levava para mais longe, segurava as minhas mãos e íamos nadando... Nadávamos tanto que nos afastávamos do tempo... O tempo, nessa hora, não se fazia presente entre nós dois.
Não havia lugar para o tempo, Éramos absolutos e absolutos tirávamos as relativas poucas roupas que ainda cobriam as nossas vergonhas e despudorados ficávamos a mercê do sol, do sal, das mãos, dos desejos secretos, mundanos e pecaminosos, usurpadores de nossa alma cálida!
Éramos muito felizes! Éramos não! Ainda somos! Porque nunca vamos esquecer aquelas manhãs de chuva, aquelas tardes ensolaradas e aquelas noites de lua em flor que nos acompanhavam a flor da pele, que sem espinhos bailava as pétalas por entre os dedos!
Eu te amo! O mar sabe disso! Meus segredos também sabem! Você me ama?! Eu não sei dizer! Eu ainda acho que sim! Só em achar já me sinto parte de um todo que não mais me pertence!
Sabemos, no silêncio das ondas de outros mares, que meu corpo ainda reclama a ausência do teu, e, que teu corpo ainda chora a lembrança do meu!
O que nos consola é sentir que ‘nosso corpo’ sem ‘nosso corpo’ é  mar que não navega, é onda que não leva, é sol que não aquece, é labirinto sem saída, é armadilha que nos mata, é saudade que traz o gosto de sal, em forma de lágrima, única alma que ainda nos une!       

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