13 de março de 2011

Verdade

                                                                                                                                                                   (Monólogo Harpa, Cena nº 13)


Acordei com uma louca vontade de pegar a caixa de veludo na qual guardo com carinho todas as cartas que trocamos ao longo do nosso viver junto!
Quando tomei a caixa em minhas mãos pensei: ‘Nossa, aqui estão todas as passagens de uma vida, todos os instantes repletos de alegrias, todas as paisagens que revelam um todo que agora se contorce por ser apenas parte’.
Lembrei-me então que você me falava de teus sonhos e desejos e que eu estava incluída em todos eles... Nós estávamos sempre juntos e somávamos nas manhãs primaveris – quando víamos em pétalas os sonhos de uma vida-, e, nas noites de invernos - quando abraçadinhos ficávamos cobrindo-nos com nossas próprias pernas-.
E era tão boa aquela sensação de eterno, de infinito movimento que nos conduzia a um querer sempre mais... Lembrei-me de certa noite em que, vestida apenas com um toque de perfume, eu te declamei no palco de nossa cama – a impossível medida do quanto de amor tenho por ti, e, o quanto sinto nosso corpo ferver quando apenas nos olhamos.
É uma física que não explica dois corpos se tornarem apenas um; é uma química que não se aplica apenas porque o toque da pele pede a alquimia... É isso que me leva a acreditar que existimos em outras vidas e que vivemos em todas essa querência que nos aproxima, nos completa, nos diferencia, nos particulariza, nos faz procurar a travessia dos mares para mantermos acesa uma chama que desafia tempo, espaço, desejo...      
Ai... A verdade... A verdade é que sinto saudade. Essa saudade – melhor tradução para o sentimento de falta, de ausência– fez-me por um instante chorar, perguntando-me em soluços: ‘Onde está tudo agora?, Que rumo tomou você?, Que rumo tomou a nossa história?, Por que nos perdemos na caminhada?, E as promessas onde foram parar... Elas se perderam de nós ou nós as esquecemos em algum banco de jardim?’, E a passagem que compramos para mais uma viagem em que livro ou caixinha eu a coloquei?”.
Vi na minha doce e eterna lembrança que os vestidos e paletós que outrora se embolavam no armário agora não se encontram mais, não se confundem, não se misturam... Esse vazio, encontrado no armário, é apenas a parte concreta do abstrato concreto que pousa em mim...
Heráclito em Diagrama 1, Fragmentos do Pensamento, diz: “Lutar contra o coração é difícil pois se paga com vida”. E meu coração anda, corre, rasteja pedindo tanta coisa... Querendo tanta coisa que já não sabe mais enumerar.
Estou pagando com a vida desde que resolvi saber ao pé da letra quais eram as tuas reais verdades, os teus reais quereres. Que bobagem isso! Às vezes nós falamos, fazemos, queremos coisas que nem nós mesmos sabemos explicar, porque então, pedir tanta explicação aos outros?
Não quero descobrir nenhuma de tuas verdades... Tuas verdades não me interessam por nenhum instante... Quero apenas saber dos meus desejos posto que eles me bastam... E quando digo isso, acredite amor, não é por egoísmo. Eu apenas quero descobrir-me ou buscar-me a mim mesma!
Por isso, que hoje, depois de rever as fotografias de uma vida ‘quase inteira’ ao teu lado, coloquei-me a pensar em tom de esperança: ‘Basta-me saber o quanto te desejo e te espero! Qual o perfume que te enlouquece, qual roupa te tira os sentidos, quais feitiços te levam para além de nós... Quais as leituras que me tocam a uma procura profunda e intensa, e, as músicas que me tiram do chão sem que eu saia um milímetro do lugar em que estou’.
São estas delícias que me interessam e movimentam-me a alma! Isso me dará uma força enorme para poder esgotar o que ainda sinto e que não está resolvido em mim... É por causa dessa necessidade de ‘esgotar’ que eu tomei minha mais cara decisão: Eu vou procurar por você, te olhar mais uma vez, tentar te dizer o que meu choro deixa e não deixa... –Esse procurar, será preciso, será precioso, mesmo que seja a última coisa que eu realmente faça por nós, para salvar-nos desse abismo que está colocado por entre nossas vidas!-.    
Eu tenho esperança que um dia ainda vou mostrar a você os caminhos que levam às montanhas de Machu Picchu... Então espero, em esperança, contigo entrar no portal do sol e amanhecer junto com orvalhos, mirando nossas vidas e tirando fotografias que revelarão um "nós" na expressão de "um".
Dessa maneira, espero que a verdade, se anuncie de outra forma para você. Espero que tuas verdades sejam outras, outras que os teus desejos, por agora, teimam em não querer saber!
E você sentirá aos poucos que: ‘o vigor de cada dia é um’. Assim, ao retornar para tuas verdades, essas que você teima em colocar acima de tudo, você sentirá que deverá abrir espaços para meus desejos....
Meus desejos já serão os teus desejos também, posto que, somos ‘dois’ na expressão de ‘dois’ – em nossa individuação-, e, podemos ser ‘dois em um’ – no complemento do humano que estar e cabe em nós...
E se nada que eu fizer, se nada que eu falar for suficiente para trazê-lo de volta a mim, eu ainda assim te peço: ‘Ouvi no silêncio de teu coração o que te recitarei agora. Só ouve, só ouve, deixa para falar quando tua alma estiver repousando no desejo que responde pelo nome de verdade'. 


Amor,
Assim, sinto-me, em inteiros pedaços... Quando me toca de perto a ''saudade do que não vivi''... 

Me assusta pensar que ''Dios nos había unido''. - E éramos, naquele profundo instante,''tú y yo'', tão felizes!-

E eu agora ''quiero solamente'' dizer-te:''Regálame las flores'' por ter um pedacinho de ti, tão perto de mim, em um infinito desejo, de encontrar-te!

E quando me envolvo nos sabores que minha alquimia preparou para ti, a saudade dói mais que receber espinhos, e, é tão triste a agonia de ''vivir sin ti''

Aí, meu amor, está toda ''la verdad'' que me feri para-sempre: A de saber que sem ti, existo só em corpo,/talvez morto/,posto que, minh'alma, apenas sabe, ''derramar mi llanto'', toda vez que surge em mim, uma sombra distante de tua presença! 
 

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